Dando continuidade a programação do Construmetal 2025, o quarto painel do dia “Transmissão de energia elétrica – Reforços, melhorias, ampliação e modernização” trouxe reflexões quanto a modernização da transmissão de energia elétrica no Brasil, sucesso nos projetos recentes que englobam a ampliação das estruturas para todos os estados do país e como serão tratados os futuros investimentos para atender a crescente demanda, além dos mais de 1 milhão de brasileiros que se encontram sem energia elétrica até os dias de hoje.
Linhagem de sucesso e conquista para o setor elétrico do país
Abrindo as discussões, Carlos Alberto Calixto Mattar, superintendente de regulação dos serviços de distribuição na ANEEL, apontou que a forma de governança que o setor apresenta ao longo de seus 27 anos em atividade é um dos possíveis motivos do porque o setor elétrico no Brasil é um dos maiores em infraestrutura. Ele explica que o sistema de transmissão do Brasil é composto por linhas de transmissão cuja voltagem é igual ou superior a 220.000 volts, com linhas que cruzam todo o país e compartilha a grande novidade: o último estado da nação que ainda não era servido por esse sistema interligado será conectado ainda este mês. “Projeto fantástico. Levou muitos anos para sair do papel devido a interferências ambientais, sociais, mas ele deve ser inaugurado agora e com isso o Brasil passa a contar com a interligação são completamente nacional. É um motivo de muito orgulho para todos aqueles que trabalham no setor”, comenta.
Carlos também comentou sobre o alto investimento de 40 bilhões de reais para a Agência Nacional de Energia e alertou sobre os desafios que o sistema de transmissão e todo o setor de infraestrutura estão enfrentando. “Nós temos a questão dos eventos climáticos extremos como por exemplo o do Rio Grande do Sul, que afetou grandes linhas e grandes subestações. O sistema precisa ser um pouco mais imune a esses esforços.”
Grande futuro à vista, mas as preocupações permanecem
Para o superintendente, o futuro da rede de transmissão no Brasil é muito promissor graças à necessidade de modernizar cada vez mais a infraestrutura, bem como aumentar a eficiência energética e integrar as fontes renováveis, que estão se expandindo de forma abundante no país em uma progressão bem acelerada. Porém, ele alerta sobre os desafios enfrentados, principalmente, no setor elétrico brasileiro, relacionados a perdas de energias e necessidade de maiores investimentos: “A infraestrutura é bastante antiga e precisa de renovação e modernização. O crescimento da demanda com o advento, principalmente, da indústria de hidrogênio e de data center, tem feito com que a demanda por energia elétrica se expanda de uma forma muito rápida, tornando os investimentos em transmissão fundamentais.”
Mattar ainda explicou que todo o setor trabalha em melhorias no sistema de transmissão e distribuição para casos de eventos climáticos extremos no Brasil, que vêm se tornando cada vez mais constantes. Ele também comentou que o maior financiador da expansão da transmissão é o BNDES, além dos leilões de transmissão realizados desde 2018 que já arrecadaram em torno de 85 bilhões de reais.
ONS e seu papel fundamental na gestão da transmissão de energia elétrica
Complementando a visão, Adriano de Andrade Barbosa, gerente de engenharia de instalações, representando a ONS, explicou que o principal papel da instituição é a gestão centralizada de toda a operação, garantindo o suprimento de energia elétrica de qualidade em todo o país, com equilíbrio e segurança. “Temos uma interface com os governos estaduais, municipais e relacionamento com diversas outras instituições como operadoras de sistemas de potência em países vizinhos, centros de institutos de pesquisa, universidades e entre outros”, explica o representante.
Projeto Manaus-Boa Vista e novos processos de melhoria para o país
Com o sucesso do projeto Manaus-Boa Vista, responsável por integrar Roraima como a última unidade de federação ao sistema interligado nacional, Adriano debateu também sobre a modernização da matriz elétrica, que apesar da composição predominante hidroelétrica, o uso de fontes renováveis têm crescido nas últimas décadas. Ele também elucidou sobre o processo de melhorias e reforço que a ONS dispõe, chamado de Plano de Outorgas de Transmissão de Energia Elétrica (POTEE), que segue um fluxograma de 5 etapas que consistem no cadastramento de propostas de melhorias de grande porte até 31 de maio e finalização até 31 de dezembro, com a emissão do POTEE feita pela ONS.
O impacto direto da Eletrobrás
Fernando Cardozo, diretor de novos negócios e transmissão na Eletrobras, celebrou a participação da empresa em 26 dos 30 leilões de transmissão já realizados no Brasil e a importância da chegada da energia renovável a Roraima. “A nossa energia, que se renova a cada gota de chuva que cai, a cada raio solar e a cada vento que sopra, será levada aos brasileiros de Roraima. Nos próximos dias, eles desfrutarão do Sistema Interligado Nacional assim como nós, que vivemos nos outros 25 estados mais o Distrito Federal”, disse.
Ele reforçou que o Brasil já atende mais de 99% da população e destacou os novos investimentos: “Hoje, quando falamos de uma linha de transmissão, temos um reforço de grande porte dentro da companhia, autorizado pela ANEEL, de R$ 7 bilhões em curso. Desse valor, 15% será em estrutura metálica. Nossos números são realmente gigantescos e feitos com muito suor e uma força de trabalho muito forte”.”
Engenharia nacional com demanda para os demais mercados
Para Ricardo Nakamura, vice-presidente de torres na ABCEM/SAE Towers, a engenharia brasileira está na vanguarda internacional para atender as demandas das transmissões de energia, exportando engenharia para países como a Austrália, por exemplo. “Do ponto de vista da indústria, eu gostaria de confirmar que nós estamos preparados para qualquer demanda de estrutura metálica. Tivemos um leilão grande, como foi mencionado, em 2023. Então, a capacidade da indústria nacional hoje atende plenamente essa demanda do mercado”, explica.
Ele ainda salientou que não há impedimento para atender à demanda de 400 mil toneladas de estrutura metálica e que, desde o período pós-Covid, foram feitos investimentos que consolidaram a capacidade de participação da indústria nacional nos próximos leilões promovidos pela ANEEL.
O Brasil como exemplo de transmissão da rede elétrica
Encerrando o painel, o mediador Carlos Adolfo, coordenador do comitê de transmissão na ABDIB ressaltou que o Brasil atingiu um feito histórico ao consolidar concessões de mais de 30 anos e expandir a integração regional. “O Brasil cresceu tanto no sistema de transmissão que hoje é lindeiro com todos os países da América do Sul. Nós trazíamos energia da Venezuela e agora somos nós que fornecemos energia para lá. Também temos interligação com Paraguai, Uruguai e Argentina. Estamos em um país que, neste campo, é referência mundial”, concluiu.