A 10ª edição do Construmetal iniciou sua programação com o painel “A viabilidade econômica da estrutura metálica: Quando construir em aço”, mediado por Daniel Ferraz, fundador do projeto Engenheiro do Aço. Ferraz abriu a discussão destacando um dos principais desafios do setor: o déficit de profissionais capacitados na engenharia civil.
“Um dos gargalos que nós enfrentamos é o gargalo técnico, que é um dos que eu atuo atualmente, pois nós temos presenciado e lido sobre o crescente desinteresse pela engenharia civil. Ora, se menos engenheiros civis estão no mercado, estão interessados no mercado, nós vamos ter um gargalo técnico amanhã”, explicou Ferraz. Ele ainda destacou a falta de formação em estruturas metálicas nas faculdades: “Hoje, o engenheiro civil que é colocado no mercado nunca ouviu falar de um perfil dobrado conformado a frio, mal sabe o que é uma tensão de escoamento de um perfil laminado. Não se vê torre na faculdade, não se vê metálica mais na faculdade. E um jovem que tem 25 anos hoje e amanhã é um comprador, um tomador de decisão, depois de 10 anos, em uma cadeia complexa e ampla, pode ter nas mãos a capacidade de decidir se vai na direção do aço ou não”.
O painel seguiu com Cezar Mortari, 1º Vice-Presidente do Sinduscon-GO, que apresentou um panorama da construção civil brasileira, destacando que o país já conta com mais de 3 milhões de colaboradores formais, enquanto mais de 6 milhões ainda atuam na informalidade. Segundo Mortari, “95% das construtoras enfrentam dificuldades na contratação de mão de obra, já que o setor apresenta pouca atratividade para novos entrantes e disputa profissionais em um mercado de trabalho cada vez mais diversificado e sofisticado. Além disso, o perfil do trabalhador brasileiro apresenta baixa fidelidade às empresas, o que tem gerado forte evasão para setores concorrentes”.
Mortari também trouxe um estudo detalhado de um prédio hipotético de 22 pavimentos em Goiânia, comparando a construção convencional em concreto com uma estrutura mista metálica. O projeto foi desenvolvido por dois calculistas renomados e orçado por seis construtoras e incorporadoras de ponta, garantindo um comparativo realista e atualizado. Entre as vantagens apontadas da estrutura metálica, ele destacou a redução do prazo de obra, menor exposição dos trabalhadores durante a execução, diminuição de 500 viagens de 40 km por desmaterialização, economia de 8 mil litros de diesel, menos barulho e poluição, redução do desperdício com 134 caçambas de entulho eliminadas, e menor pressão sobre os aterros sanitários. “Estamos falando também da diminuição drástica do uso de madeira e da redução no consumo de água em cerca de 30%, implicando menos pressão sobre os reservatórios e menor necessidade de tratamento de água e esgoto. Além disso, há menos incômodos para a vizinhança: menos poeira, menos barulho, menos quedas de materiais, melhorias no trânsito e menor tempo de interferência”, concluiu Mortari, reforçando a relevância da sustentabilidade e da eficiência econômica como critérios decisivos na escolha do sistema construtivo.
Em seguida, Rosane Bevilaqua, gerente de Marketing, Inovação e Business Development da Gerdau, contextualizou o cenário da construção industrializada e a oportunidade da construção metálica: “O objetivo da minha fala hoje é contextualizar um pouco o desafio da construção civil e mostrar onde a construção industrializada, em particular a construção metálica, aparece como uma opção cada vez mais viável dentro desse cenário. A construção civil hoje representa mais de 6% do PIB do Brasil, sendo um dos principais setores produtivos. Em 2024, cresceu a uma taxa de 4% ao ano e a expectativa, segundo o SEMIC, é que o crescimento do próximo ciclo, até 2030, fique entre 2,5% e 13,5% ao ano. Ou seja, mesmo diante das dificuldades que enfrentamos, o setor não apresenta sinais de arrefecimento”.
Ela destacou os desafios que tornam a construção industrializada atraente: aumento dos custos dos insumos, escassez de mão de obra, baixa produtividade nos canteiros e baixa adoção de tecnologia. “Reduzir desperdício é tão importante quanto projetar com materiais de alto desempenho, para garantir o menor consumo possível e assegurar que as estruturas entreguem o desempenho esperado”, afirmou. Sobre crédito, Rosane frisou: “Hoje, temos um sistema que libera recursos contra a medição do avanço físico da obra. Para a construção industrializada, isso é um pênalti gigantesco. Quando chega o momento de montar a estrutura metálica, praticamente 100% da matéria-prima, como o aço, e todo o processo de beneficiamento dentro da fábrica já foram pagos. Se tivermos um sistema de crédito alinhado às demandas do mercado, a adoção de sistemas industrializados será muito mais fácil e acelerada”.
Enrico Mangoni, engenheiro civil da Studio Mangoni, trouxe uma provocação divertida para discutir a viabilidade econômica: “O título da contribuição me deu uma ideia interessante. Será que a Inteligência Artificial não pode responder a essa pergunta? Ou seja: quando a construção metálica é viável economicamente? Ela respondeu perfeitamente: a estrutura metálica é economicamente viável quando se busca rapidez na execução, vãos maiores, flexibilidade no projeto e redução do prazo de imobilização do capital”.
Mangoni destacou, no entanto, que a análise não pode se restringir ao custo do material: “Devemos levar em conta todos os outros aspectos. A IA nos dá a resposta baseada em dados passados, mas isso evidencia que ainda não somos bons em atribuir valores econômicos aos benefícios da estrutura metálica. Além disso, existe a falta de projetistas especializados, que muitas vezes faz com que a estrutura metálica seja menos competitiva diante de outros sistemas construtivos. Essa diferença, que pode parecer pequena, chega a impactar milhões em prédios multiandares”.
Por fim, Márcio Castro, sócio na Next, trouxe ao painel a importância da medição de impactos para a economia circular de baixo carbono e a relação direta entre carbono e valor econômico: “Hoje, acredito que estamos dando um passo importante rumo à medição dos impactos para a economia circular de baixo carbono. O fluxo de caixa que o mundo precisa olhar agora é o fluxo de caixa das emissões e das remoções, para chegarmos ao famoso net zero. Medir a contabilidade de carbono parecia mais complexo, mas, com o advento da tecnologia, da inteligência artificial e do volume de dados que temos hoje, com notas fiscais eletrônicas e PIX, isso vai ficar cada vez mais fácil de entender”.
Castro também destacou o marco legal que deve impulsionar o mercado de carbono no Brasil: “No dia 11 de dezembro de 2024 foi sancionada a Lei 15.042, que criou o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões — o mercado regulado de carbono. Empresas que emitirem acima de 10 mil toneladas de CO2 terão que reportar suas emissões, e acima de 25 mil toneladas terão a obrigação de compensar o excedente. Uma tonelada de CO2 equivalente terá preço, o que muda a lógica da indústria da construção, trazendo o carbono para a contabilidade e para o planejamento financeiro das empresas”.
Segundo Márcio, o Brasil é uma green powerhouse, e muitas vezes ficamos presos a lógicas que não defendem da forma ideal o mercado que podemos liderar.
Encerrando sua fala, Castro provocou a audiência: “Eu deixo aqui três perguntas para vocês: quem sabe suas emissões em 2024? Quem emitiu mais de 10 mil toneladas? Quem ultrapassou as 25 mil toneladas? Essas respostas, eu acredito, mostram onde cada um se encontra nessa transição. E para lembrar de forma simples: um crédito de carbono é como um recibo climático, a prova de que uma tonelada de CO2 deixou de ir para a atmosfera graças a um projeto sustentável”.
O painel mostrou que decidir construir em aço envolve uma visão integrada: produtividade, sustentabilidade, inovação tecnológica, planejamento financeiro e impacto ambiental. Mais do que uma questão de preço, a escolha por estruturas metálicas é estratégica, refletindo os desafios e oportunidades de um setor que precisa inovar para crescer.