Mediado por Fábio de Gerone, vice-presidente da área de Light Steel Frame (LSF) na ABCEM, o painel reuniu especialistas nacionais e internacionais para debater a evolução do setor, os avanços já conquistados e os desafios para consolidar a industrialização da construção civil no Brasil.
LSF: de novidade a realidade consolidada
Abrindo o encontro, Fábio de Gerone lembrou que em 2006, na primeira edição da Construmetal, o sistema Light Steel Frame ainda era uma novidade. Hoje, quase duas décadas depois, tornou-se realidade em diversos países.
“Como entusiasta do sistema light steel frame, sei que ele é dominante para construções de pequeno e médio porte no mundo inteiro. Ele representa cerca de 70% das construções na Alemanha, nos Estados Unidos, no Canadá e na Austrália. Eu morei na Austrália, e lá esse sistema é amplamente utilizado. É um sistema maravilhoso”, afirmou.
Para Fábio, o desafio atual é romper definitivamente os paradigmas e consolidar o LSF como sistema convencional no Brasil, assim como já ocorre em outros mercados maduros.
Experiência chilena como referência
Participando de forma remota, Beda Barkokebas, professor adjunto da Pontifícia Universidade Católica do Chile, trouxe a experiência internacional, com foco na realidade chilena.
“O sistema não depende de um único material. O aço, por exemplo, é altamente industrializado, mas também existem soluções em madeira e concreto. A questão é saber como aproveitar o melhor de cada material em projetos específicos. Essa é a mensagem que quero deixar: não se trata de escolher um contra o outro, mas sim de integrar soluções”, destacou.
Segundo ele, o Chile — um dos países mais sísmicos do mundo — conseguiu avançar graças às parcerias público-privadas, integração com órgãos públicos e modernização da legislação. “A grande disputa não é madeira versus aço, mas sim industrializado versus tradicional. A mentalidade foi: reduzir barreiras para a construção moderna competir de igual para igual”, completou.
Ecossistema de inovação no Steel Frame
Renan Hessel da Cunha, diretor de Operações Técnicas da Espaço Smart, apresentou como a empresa construiu um ecossistema de inovação voltado ao Steel Frame, com forte atuação em verticalização, capacitação e democratização do acesso à tecnologia.
“Nós, quanto empresa, quanto Espaço Smart, nossa dinâmica sempre foi pautada no inconformismo. A gente não se conforma com a forma como se constrói no Brasil. Para nós, não faz nenhum sentido. Então, por uma questão empresarial e uma sinergia com o uso do aço, entendemos que o Steel Frame, como sistema construtivo — que hoje completa 100 anos da primeira obra americana construída —, é um sistema que propicia uma industrialização muito grande”, explicou.
Renan destacou ainda a relevância conquistada pela empresa: “Um ponto interessante sobre garantia de representatividade: mesmo sendo uma empresa de nicho na construção, hoje a Espaço Smart figura entre as 10 maiores varejistas do segmento no Brasil. Ou seja, começamos a ser representativos, a ter voz, inclusive nesses eventos. Essa representatividade é uma bandeira do setor que carregamos com muito esforço e orgulho”, disse.
Normas e evolução da construção metálica
O engenheiro Marcelo Micali, business development manager da Framecad INC, trouxe uma análise histórica da construção metálica e discutiu a regulamentação do LSF no Brasil.
“Eu fico imaginando se o Santos Dumont fosse esperar uma norma para construir o avião. Ele poderia ter pensado: ‘Não vou fazer um avião porque não tenho uma norma de tráfego aéreo ainda’. Não faria sentido, certo? A norma é demandada. Hoje ela é demandada pelo mercado”, afirmou.
Segundo ele, embora a norma brasileira limite o LSF a edificações de até dois pavimentos, já existem projetos bem-sucedidos em múltiplos andares. “Hoje existe um consenso de que até 7, 8 ou 9 pavimentos são tecnicamente viáveis e economicamente competitivos em LSF. Mais do que isso, também é possível, mas vai depender do estudo econômico e, muitas vezes, do uso de sistemas mistos: núcleo de concreto e estrutura em Light Steel Frame, por exemplo”, explicou.
Qualificação como chave para o futuro: a contribuição do Senai-SP
Encerrando o painel, Camila Pimenta, diretora do Senai-SP, trouxe um olhar prático sobre um dos maiores gargalos da construção civil: a falta de mão de obra qualificada. Segundo ela, o cenário é crítico não apenas no setor da construção, mas em toda a indústria.
“Estamos vivendo o envelhecimento da mão de obra ativa dentro dos canteiros. Hoje, no setor da construção, a idade média do profissional está entre 38 e 42 anos. E os jovens, onde estão? Começam as primeiras problemáticas: a taxa de natalidade está em queda; muitos jovens afirmam que não terão filhos. Como vamos reverter esse cenário de falta de mão de obra?”, questionou.
Para responder a esse desafio, o Senai-SP tem se consolidado como parceiro estratégico da indústria, utilizando ferramentas como o Mapa de Demanda — que reúne inteligência de dados para conectar necessidades do mercado com formação profissional. “Tenho uma missão: quando vou colocar uma oferta para a indústria, preciso ser assertiva, garantindo empregabilidade. Se não, perco tempo e formo um profissional para uma atividade que não está em alta”, explicou a diretora.
Com foco em preparar novas gerações para ocupar espaços no setor, a instituição já oferece o curso de Construtor de Edificações, destinado a jovens de 17 a 24 anos, que capacita profissionais para atuar como montadores de estruturas metálicas, armadores, carpinteiros, ceramistas, pintores e telhadistas.
No entanto, a grande novidade foi anunciada no próprio Construmetal: o lançamento do curso de Construtor de Edificações em Light Steel Frame, que vai formar profissionais capazes de quantificar materiais, montar estruturas autoportantes, aplicar sistemas de fechamento, instalar escadas, coberturas e lajes, entre outras funções. A iniciativa é vista como um passo fundamental para acelerar a adoção do sistema industrializado no Brasil, ao formar mão de obra jovem e especializada.
Além disso, Camila Pimenta anunciou para o início de 2026, da primeira pós-graduação em Projetos de Estruturas Metálicas, que contemplará disciplinas como dimensionamento de elementos simples e compostos, estruturas mistas e híbridas, concepção e análise de projetos de galpões e proteção contra incêndio. “A ideia é investir na sustentabilidade e na força da nossa indústria, formando profissionais capazes de pensar e projetar a construção industrializada em um patamar mais avançado”, concluiu.